Há quem diga que ele é hipócrita, falso moralista e mal educado, por outro
lado, os amigos e a família discordam em número, gênero e grau, e ele
também “posso ser qualquer coisa, mas meu caráter dinheiro nenhum
compra”. Esse é Luís Guilherme Brunetta Fontenelle de Araújo, nascido no
Rio de Janeiro, mineiro por parte de mãe e carioca nato por parte de
pai. Mas não é por esse nome que ele é conhecido, seu nome para muitos
não é Luís Guilherme e nunca será, para o mundo ele é Tico Santa Cruz.
Tico recusou o sobrenome no inicio da carreira musical porque “família é
um lance complicado, muitos querem aproveitar a fama do sobrenome” sai o
sobrenome, entra Santa Cruz. É a união do apelido de infância com o nome
que escolheu para si.
Sempre muito falante, se não estiver assim algo está errado. Sem papas
na língua, fala o que pensa para quem quiser e também para quem não quer
ouvir. Defende sua verdade a qualquer hora e lugar. Personalidade forte
e crítica. “Criticas são sempre bem-vindas”.
Tico é músico, voluntário, poeta, escritor, contestador, pai de família...
Como pessoa, mudou muito nos últimos anos. Apaixonado por livros têm
neles uma fonte de conhecimento inesgotável. “A maior rebeldia num país
como o Brasil, repleto de analfabetos e analfabetos funcionais, é ser
inteligente. Ler é a maior rebeldia.” Em 2006, a violência da cidade do
Rio bateu a porta e era impossível não deixar que ela passasse por
cima. Rodrigo Netto, seu amigo e companheiro de banda, foi assassinado.
“Porque isso foi acontecer com ele? Eu preferia que tivesse sido comigo.
Trocaria de lugar se pudesse voltar no tempo e deixá-lo aqui nesse
universo injusto, por que sem dúvida nenhuma sua forma leve de viver a
vida deve ser um exemplo a ser seguido.”
Uma época de mudanças, um visual desleixado e a barba sem fazer. “Eu
vagava noites em claro chorando as saudades do meu amigo que partira. Eu
havia perdido completamente a esperança nos humanos, eu mergulhei num
poço de revolta, angústia e medo de não conseguir mais sorrir.”
Quando tudo parecia perdido, surgiu a luz: Corujão da Poesia. “Foi amor a
primeira vista. Amor por pessoas que tinham em seus olhares, bocas e
expressões poesia, música, arte. Foi o pulsar de um coração que estava
quase se entregando. Foi o resgate.”
Depois de conhecer o Corujão, nasceu um projeto, os Voluntários da
Pátria. Um coletivo de música, poesia, teatro e reflexão coletiva que
viaja o país divulgando trabalhos independentes e que visam criar uma
juventude pensante. Política, amor, violência e sexo, não importa o
tema, ele será discutido no palco pelos artistas e pelo público que tem
participação cativa a qualquer momento. “Ao sentir a transformação em
mim,
que já não acreditava mais em nada, percebi que a poesia, a música, as
reflexões propostas por aquele grupo poderiam ser úteis também a outros
corações perdidos.”
Protestos ele tem alguns nas costas: do Rio de Janeiro à Brasília, nunca
deixou de fazer a sua parte, mesmo que fosse sozinho. “Já fiquei pelado
no meio da rua, quase ninguém viu... Era jogo do Brasil na Copa do
Mundo.”
Entre as
diversas atividades, ainda encontra tempo para participar ativamente de
discussões ávidas nas redes sociais. E faz questão de fazer tudo
sozinho, sem ninguém para falar por ele. Assessoria somente a da banda.
Em setembro, aceitou um desafio, para ele um desafio pessoal. Viver um
reality show. “Não aceitei o convite de primeira. Assim como muitas
pessoas, também tinha um certo preconceito com esse tipo de programa.
Nunca assisti a nenhum reallity. Posso dizer que passei o olho em alguns
capítulos do BBB na sua última edição, por conta da participação de meu
amigo Marcelo Dourado. Pensei insistentemente a respeito. Foi depois de
conversar com pessoas muito próximas e refletir bastante sobre os prós e
contras, profissionalmente e familiarmente, que decidi que poderia ser
uma experiência humana interessante.”
Dessa experiência surgem novas críticas, elogios, fãs e também novos
“anti Tico Santa Cruz”. É também dessa nova experiência que quem o
conhece afirma mais do que nunca “Tico Santa Cruz, ame ou odeie, não
existe meio termo.” Mas, para ele, a única coisa que importa é estar de
volta a sua vida, sua família e a estrada com a banda. “Porque aqui é
meu lugar.”