quinta-feira, março 31, 2011

Tico contra a cobrança de entrada em camarim

Tico Santa Cruz acusa Restart de cobrar para receber fãs no camarim
O roqueiro afirma que o grupo cobra para receber os admiradores após os shows. Pe Lu, vocalista da banda, diz que “kit camarim” é apenas uma maneira de organizar a visitação - DANILO CASALETTI

Em um post publicado em seu blog, o vocalista da banda Detonautas, Tico Santa Cruz, acusou os integrantes de banda Restart de cobrarem para receber os fãs no camarim após as suas apresentações. “Isso é o mais puro oportunismo. Atitude de quem não dá valor nenhum aqueles que lhes consideram importante”, escreveu. 

Procurada por ÉPOCA, a banda, criada em 2008, negou que cobre para que os fãs sejam recebidos no camarim, mas admitiu que existe algo, que, vulgarmente, pode ser chamado de ‘kit camarim’, que traz, além de ingressos para os shows e produtos da banda, a possibilidade do fã chegar perto dos integrantes da banda. “Não temos tempo hábil para atender a todo mundo que vai aos nossos shows”, diz o vocalista Pe Lu. 

Segundo o músico, os seguidores da banda, que ficaram conhecidos como ‘Família Restart’ ainda podem optar pela chamada ‘Photo Party’, na qual é marcada uma data, geralmente um dia antes do show, para que os fãs tirem fotos com seus ídolos. Tem direito a participar da ‘Festa da foto’ quem comprar ingresso para a apresentação. 

“Sempre fomos ligados aos fãs e sempre fizemos de tudo para não perder essa proximidade. O “kit camarim” é só uma das diversas formas que as pessoas têm de ir ao camarim, a uma passagem de som ou de simplesmente dar um beijo na gente”, afirma Pe lu. 

Essa não é a primeira vez que o cantor Tico Santa Cruz entra em uma polêmica com o Restart. No começo deste ano, o roqueiro afirmou, via Twitter, que o som dos garotos “parecia com a boneca Barbie”, provocando a ira dos fãs da jovem banda. Diante dos protestos que recebeu, escreveu, provavelmente se dirigindo aos fãs do grupo: “Foi mal aí, criançada. Sem revolução na creche.” 

Os dois lados da história concordaram em responder às perguntas feitas por ÉPOCA. Tico, além de sustentar suas acusações, ainda diz que o Restart “infantiliza o rock brasileiro”. Já Pe Lu diz não ter nada contra o veterano roqueiro e que admira seu trabalho, independente de qualquer crítica que ele faça ao grupo.

“Os fãs do Restart estão sendo explorados de forma passional”
Tico Santa Cruz, vocalista da banda Detonautas

ÉPOCA – Por que você decidiu expor o assunto no seu blog? Como ficou sabendo da história?
Tico Santa Cruz – Fiquei sabendo na estrada, através de boatos de produtores. Não acreditei. Achei que fosse apenas mais uma implicância. Depois fiquei sabendo que a filha de uma amiga tinha lido e ouvido comentários a respeito. Fui procurar fontes. Descobri uma página de fã-clube oficial que dava as recomendações a respeito do procedimento para entrada no camarim. Lá existem diversos depoimentos de pessoas que pagaram essa entrada para tirar fotos e pegar autógrafos. Isso desde 2010. Então, decidi questionar via Twitter e centenas de pessoas mandaram mensagens confirmando. Por fim, liguei para alguns contratantes que confirmaram a ação. O fanatismo de muitos destes pré-adolescentes e crianças é cego. Além do mais os pais acabam pagando por achar que isso seja comum. Não é comum. Não conheço artistas brasileiros que cobrem entrada em camarim. Os que recebem os fãs, o fazem por consideração e respeito, não em troca de dinheiro. É importante que esses jovens saibam disso, estão sendo explorados de forma passional. É importante que tenham outra referência, pois, para muitos meninos e meninas, o Restart é o primeiro contato com artistas. Paga quem quiser, desde que saiba que isso é uma atitude imposta por esses rapazes.

ÉPOCA – Você já havia publicado outras críticas sobre o Restart no Twitter. Não acha que as pessoas possam achar que você está fazendo uma espécie de campanha contra a banda?
Tico – Posto críticas e opiniões a respeito de todos os assuntos. Política, políticos, bandas, filmes, etc. O Twitter, a meu ver, é uma maneira de debater, expor questões e fazer contato com o público, e não só dar satisfações de onde estou ou o que estou fazendo. Minha crítica ao Restart é a mesma com relação às bandas que precederam esse momento. Infantilizaram o rock, passaram a tratar os jovens como débeis mentais, se aproveitam dessa "inocência" e do desinteresse deles pelo senso crítico para disseminar uma falta de comprometimento generalizado. O entretenimento é necessário e fundamental, mas a postura que estas bandas assumiram é uma vergonha para quem entende o rock como filosofia de vida. São bonecos de empresários inescrupulosos que exploram o momento e depois descartam esses garotos como um lixo qualquer. Qual será o futuro dessa geração?

ÉPOCA – O Restart tem milhares de fãs jovens. Não teme que, com essa atitude, seu nome seja visto com antipatia por esses jovens e, consequentemente, isso os afastem de curtir ou conhecer seu trabalho como músico?
Tico – Não estou aqui para agradar ou dizer o que as pessoas querem ouvir em troca de amor. Quem me conhece sabe de minha postura crítica. Não cobro meus fãs, nem admito ser cobrado por eles. Não alimento fanatismos, acho isso perigoso. Concordo com Cazuza quando disse que "os fãs de hoje serão os linchadores de amanhã". Cazuza não se referia aos admiradores, aqueles que gostam do trabalho, e sim aos fanáticos, que hoje dizem amar e dar a vida por seus ídolos e amanhã crescem, enjoam e passam a atacá-los. Me interessa o cérebro do público. O dinheiro eu ganho fazendo os shows.

ÉPOCA – Você costuma receber seus fãs no camarim? Curte esse tipo de contato?
Tico – Estamos há dez anos na estrada, sem tirar férias. Sempre recebemos nossos fãs e nunca cobramos um centavo por isso. Entendemos que seja o contato natural deles conosco para saciarem a curiosidade e demonstrarem a consideração e o carinho, nosso com eles para que possamos ouvi-los e até conhecê-los de perto para que isso norteie quem esta nos acompanhando. Já passamos centenas de vezes mais tempo atendendo fãs no camarim do que fazendo shows. Esse papinho de que são milhares e de que é preciso filtrar é desonesto com quem não tem dinheiro, é excludente. Esse tal do “Photo Party” foi inventado apenas para justificar o injustificável. Não se cobra fã por autógrafo e foto.

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“Cobramos por um kit, não pela visita ao camarim”
Pe Lu, vocalista e guitarrista do Restart

ÉPOCA – Como funciona tipo de ingresso que dá direito aos fãs de falarem com vocês no camarim? Quanto mais caro é essa entrada? Há quanto tempo vocês adotaram essa prática? 
Pe Lu – A ideia de criar um “kit camarim” nasceu da nossa necessidade de conseguir, de alguma forma, e a mais justa possível, escolher as pessoas que iríamos atender, afinal não temos tempo hábil para atender a todo mundo que vai aos nossos shows. A idéia do kit veio para incentivar as pessoas a garantirem nossos produtos originais e, além de tudo, dar a chance delas visitarem o camarim. Adotamos essa prática há cerca de um ano e alguns meses, que foi exatamente a época em que nosso público aumentou e a procura pela visita no camarim também. O preço é equivalente ao que eles pagariam na soma dos produtos do kit, não cobramos pelo nosso tempo ou pela visita em si.

ÉPOCA – Quem não compra esse tipo de ingresso também pode acessar o camarim?
Pe Lu – Quando criamos o “kit camarim”, sempre demos de 20 a 50 pulseiras (que dão direito a entrar no camarim) para as primeiras pessoas que entrassem na casa. Nunca ganhamos dinheiro com a ação, ela sempre teve a intenção total de fazer com que as pessoas ficassem perto da gente de uma forma que tivesse o mínimo de organização.

ÉPOCA – Você não acha que essa prática pode gerar uma frustração naqueles que não podem pagar (ou até muitas vezes não conseguem ingresso)?
Pe Lu – Qualquer pessoa que entra na casa pode comprar o “kit camarim”. Como eu disse, as primeiras da fila sempre ganham pulseiras também e, quando é possível, fazemos uma outra ação chamada Photo Party, um dia antes do show, quando atendemos, de três a cinco horas, todas as pessoas que têm ingresso pra determinado show. Sempre fomos uma banda ligada aos fãs e sempre fizemos de tudo para não perder essa proximidade. O “kit camarim” é só uma das diversas formas que as pessoas têm de ir ao camarim, a uma passagem de som ou de simplesmente dar um beijo na gente.

ÉPOCA – Quanto tempo a banda passa recebendo os fãs no camarim após os shows?
Pe Lu – Depende muito do número de pessoas. Em média, duas horas.

ÉPOCA – Além do camarim, o grupo promove algum outro tipo de ação para possibilitar o contato com os fãs?
Pe Lu – Promovemos, sempre que possível, o Photo Party, no qual a pessoa que possuir ingresso para tal show pode ir a essa tarde de autógrafos e tirar fotos, dar beijos, abraços. Nossa intenção nunca foi e nunca será ganhar dinheiro em cima da nossa presença, mas muitas vezes é preciso que haja alguma participação financeira das pessoas pra cobrir possíveis gastos e, até mesmo, como no caso do “kit camarim”, para organizar.

ÉPOCA – Essa não é a primeira vez que o cantor Tico Santa Cruz posta comentários sobre a banda ou integrantes do Restart. Vocês acham que há alguma causa pessoal nessas manifestações?
Pe Lu – Para ser sincero, não conheço o Tico pessoalmente, mas tenho um profundo respeito pelo trabalho que ele tem com o Detonautas, que por sinal é uma banda que gostamos muito. Vivemos em um país democrático, as opiniões e críticas são sempre bem vindas quando carregadas de respeito e de uma vontade que o outro melhore. Como eu disse, não o conheço pessoalmente, mas como profissional sempre vai ter o nosso respeito, independente do que fale.


E você, o que acha disso tudo?

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